🐟 Uma noite de neblina e silêncio no rio terminou com um barco vazio à deriva. Mas havia marcas estranhas a bordo...
Dizem que na curva do rio perto da antiga usina, nenhum pescador experiente encosta mais o barco à noite. Mas nem sempre foi assim.
Seu Cícero, velho pescador conhecido por não temer nada, saiu sozinho numa madrugada de segunda-feira. Não era dia de muito peixe, mas ele insistia que “quanto mais quieto o rio, mais gordo o tucunaré”. Subiu devagar a corrente e sumiu entre a neblina grossa que cobria a água como um lençol.
Na manhã seguinte, o povo da vila achou estranho ele não ter voltado. Resolveram descer até o porto, e lá estava o barco. Flutuava devagar, batendo de leve na margem, sem âncora, sem remo, sem Cícero.
O mais estranho eram as marcas no casco. Como se garras ou mãos enlameadas tivessem segurado nas laterais. Havia ainda pegadas — mas não de bicho. Eram marcas secas, como se alguém tivesse subido, se arrastado e... sumido no ar.
Buscaram o corpo por dias, mas nunca encontraram nada. Nem um boné, nem a linha de mão, nem a isca que ele sempre levava. Só o barco — silencioso, leve, como se ninguém tivesse entrado.
Desde então, quando a neblina baixa no rio, o povo diz que dá pra ouvir o som do motor do velho barco, mesmo com ele parado no barranco.
“É Seu Cícero tentando voltar”, cochicham os mais velhos. Mas ninguém mais ousa remar naquela direção.
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