🐟 Uma noite de pesca virou pesadelo quando algo do além tocou o ombro de um dos pescadores.
Passamos o dia todo ali, entre arremessos silenciosos, assovios do vento e o som de algum bicho mato adentro. Pescaria foi pouca, conversa ainda menos. Ninguém falava em voz alta, e todo mundo evitava até fazer piada. Só depois do pôr do sol, quando o céu começou a escurecer de verdade, decidimos que já estava na hora de voltar.
A trilha de volta passa por um trecho estreito da estrada velha, cortando o pasto onde dizem que, antigamente, era o cemitério dos escravizados. Lugar seco, com árvores retorcidas e o cheiro de terra antiga. Um dos amigos ia mais atrás, distraído, olhando o chão, quando parou de repente.
— Que foi? — perguntei.
Ele olhou pra mim com os olhos arregalados, brancos, tremendo feito vara verde.
Tentamos rir, fingir que era só o cansaço. Mas ele não conseguia andar direito. Disse que a mão gelada parecia ter deixado uma marca, como se queimasse de frio. Quando chegamos na estrada principal, ele foi o primeiro a correr pro carro e se trancar por dentro.
No outro dia, quando se olhou no espelho, tinha mesmo uma marca arroxeada no ombro. Quase como a pegada de dedos finos. Ossudos.
Nunca mais voltamos lá no Dia de Finados. Nem em outros dias. Porque tem lugar que não quer companhia. E tem toque que atravessa o tempo, vindo das profundezas do que foi esquecido.
Amigos da pesca! Às vezes, o que puxa pela linha não é o peixe… e o que te acompanha até em casa, nem sempre veio com você no carro. Pescar é se conectar com a natureza — e com tudo que mora nela.
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